quarta-feira, 26 de outubro de 2011

ESTUDO QUESTIONA USO DA ACUPUNTURA PARA TRATAR DORES

Débora Mismetti - Editora-assistente de saúde 11/04/2011 - 16h32

Um trabalho publicado neste mês no periódico "Pain" analisou 57 revisões de estudos feitas na Europa, Ásia, nos EUA e no Canadá sobre a eficácia da acupuntura contra dores de cabeça, ombros, coluna ou causadas por fibromialgia, câncer, artrite reumatoide e cirurgias.

De acordo com os autores, foram encontrados resultados conclusivos e positivos do tratamento com agulhas só para dores no pescoço. Já para os outros casos, não houve comprovação de eficácia da técnica. Os pesquisadores, das universidades de Exeter e Plymouth, no Reino Unido, e do Instituto de Medicina Oriental da Coreia do Sul, destacam que uma das revisões mais recentes e com melhor metodologia concluiu que a acupuntura simulada (com palitos que não penetram na pele) teve os mesmos bons resultados que a feita com agulhas, para tratar dores nas costas. Isso sugere, diz a pesquisa, que a melhora observada se deve a "efeitos não específicos", ou placebo, como convicção do terapeuta ou entusiasmo dos pacientes.

EFEITO COLATERAL

De acordo com o presidente da Sbed (Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor), João Batista Garcia, essa conclusão gera ceticismo quanto à terapia. "Mesmo pesquisas de alta qualidade [incluídas no estudo] não provaram efeito benéfico."

Outra conclusão "alarmante", segundo Garcia, que é professor na Universidade Federal do Maranhão, são os efeitos colaterais relatados. A maioria deles foi decorrente de infecções bacterianas por agulhas contaminadas, tratadas com antibióticos. Mas quatro pacientes tiveram seus pulmões perfurados e morreram. Em comentário publicado com a pesquisa, a médica Harriet Hall, que se autodenomina "cética", classifica a acupuntura como "nem eficaz nem inofensiva". "A acupuntura é o melhor placebo que existe", afirmou a americana à Folha. "A terapia combina uma mística oriental a um ritual elaborado. O paciente relaxa durante o tratamento, e o terapeuta é persuasivo, confiante e carismático."

DEFESA

Para o médico acupunturista Hong Pai, do HC de São Paulo, a falta de eficácia e os efeitos colaterais anotados na pesquisa se devem ao treinamento falho dos terapeutas em muitos países. "Os meus alunos fazem 600 horas de treinamento e ainda não saem perfeitos. Imagine quem tem cem ou 120 horas [como em países europeus]?"

O especialista chinês, que trabalha no HC desde 1989, afirma que a equivalência entre a acupuntura placebo e a real pode acontecer em alguns casos, porque algumas dores exigem estimulação só superficial dos pontos.

http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/901151-estudo-questiona-uso-da-acupuntura-para-tratar-dores.shtml

Há pelo menos dois mil anos, curandeiros chineses usam a acupuntura para tratar dores e outros problemas de saúde. Agora, os médicos ocidentais querem provas de que a prática funciona. Há poucas dúvidas de que as pessoas se sentem melhor após receber o tratamento, onde finas agulhas são inseridas profundamente na pele em pontos específicos do corpo. Mas elas estariam se beneficiando da própria acupuntura, ou simplesmente sentindo um efeito placebo?

A discussão foi abastecida, na última semana, por um estudo na revista "Arthritis Care and Research". Pesquisadores do Centro de Câncer MD Anderson, em Houston, descobriram que, para 455 pacientes com uma grave artrite no joelho, a acupuntura entregou o mesmo alívio que um tratamento falso.

Na verdade, os pacientes conseguiram uma redução significativa na dor com ambos os tratamentos uma redução média de um ponto, numa escala de um a sete. críticos sustentam que o estudo foi mal projetado.

Para começar, segundo eles, os pacientes dos dois grupos receberam tratamentos com agulhas e estímulos elétricos; a principal diferença era que, no grupo do procedimento falso, as agulhas não eram inseridas tão profundamente, e os estímulos tinham uma duração bem menor. No mundo real, porém, um acupunturista experiente personalizaria o tratamento aos sintomas específicos de cada paciente. Neste estudo, os pacientes do grupo de acupuntura "real" receberam as agulhas todos da mesma forma. Em outras palavras, vez de provar que a acupuntura não funciona, o estudo pode sugerir que ela funciona mesmo quando mal realizada. Mas a verdadeira lição, segundo os defensores da prática, é o quão difícil pode ser aplicar os padrões de pesquisa ocidentais a uma arte de cura da antiguidade.

"As pessoas dizem que não existem pontos inativos para a acupuntura basicamente, qualquer lugar do corpo onde você inserir uma agulha será um ponto ativo", explicou Alex Moroz, experiente acupunturista que dirige o programa de músculo e esqueleto do departamento de medicina de reabilitação da Universidade de Nova York. "Existe uma corrente de literatura que argumenta que toda a abordagem ao estudo da acupuntura não se presta ao método científico reducionista do Ocidente". Porém, a principal autora do estudo, Maria E. Suarez-Almazor, aponta que o tratamento falso foi desenvolvido com a ajuda de acupunturistas experientes. Num estudo de medicamentos, uma resposta igual nos grupos de tratamento e placebo provaria que o medicamento não funciona, diz ela.

"Nós realmente trabalhamos com acupunturistas que são treinados no estilo chinês tradicional, e pedimos que eles inventassem um processo falso que fosse crível", afirmou Suarez-Almazor. "Nós não planejamos um estudo para mostrar que a acupuntura não funciona. Os resultados vieram sem nenhuma diferença entre os grupos".

A pesquisa da MD Anderson, assim como outros estudos recentes sobre a acupuntura, geraram especulações de que a picada da agulha, seja ela da verdadeira acupuntura ou de uma versão falsa, pode influenciar a forma como o corpo processa a transmite sinais de dor. Um estudo de 2007 com 1.200 pacientes com dor nas costas, financiado por companhias de seguros da Alemanha, mostrou que cerca da metade dos pacientes, igualmente nos grupos de acupuntura real e falsa, sentiam menos dores após o tratamento, frente a apenas 27% dos que haviam recebido fisioterapia ou outro tratamento tradicional para as costas.

Quando os alemães rastrearam a quantidade de remédios para dor usada pelos pacientes, eles identificaram uma diferença considerável entre a acupuntura real e o tratamento falso. Apenas 15% dos pacientes do grupo de acupuntura precisaram de remédios adicionais para dor, frente a 34% daqueles no grupo falso. O grupo que recebeu tratamentos convencionais para as costas se saiu ainda pior: 59% desses pacientes precisaram de analgésicos adicionais.Os pesquisadores, que publicaram suas descobertas em "Archives of Internal Medicine", especularam que a inserção de agulhas numa região com dor pode ter causado um "efeito super placebo", desencadeando uma série de reações que alteram a forma como a o corpo experimenta a dor.

Outro estudo, este financiado pelo Instituto Nacional de Saúde dos EUA e publicado em 2004, descobriu que a acupuntura reduzia significativamente a dor e melhorava a função em pacientes com artrite no joelho frente a um tratamento falso ou aos tratamentos de rotina para o joelho.

No entanto, esse resultado foi questionado, pois os pacientes do grupo falso provavelmente descobriram que não estavam recebendo o tratamento verdadeiro. Eles receberam apenas duas inserções de agulhas no abdômen, enquanto uma agulha era simplesmente pressionada por nove regiões da perna e colada à pele para imitar a acupuntura. Uma simulação de máquina de estímulos elétricos zumbia e piscava ao lado, mas não emitia qualquer corrente ao corpo.

Neste ano, pesquisadores do Hospital Henry Ford, em Detroit, solucionaram o problema da criação de uma acupuntura falsa: eles não o fizeram. Em vez disso, compararam a acupuntura a um remédio comprovado o Effexor, um antidepressivo que provou reduzir significativamente as ondas de calor em pacientes com câncer de mama.

Os resultados foram surpreendentes. A acupuntura aliviou as ondas de calor tanto quanto o Effexor, com menos efeitos colaterais. O grupo da acupuntura relatou mais energia e até mesmo um aumento no impulso sexual, em comparação ao grupo usando o Effexor.

"Existem algumas coisas que você não pode estudar da mesma forma que fazemos com remédios", disse Eleanor M. Walker, diretora de oncologia de câncer de mama do Sistema de Saúde Henry Ford. "O ponto que não pode ser discutido em meu estudo é a duração do efeito. Ele dura, e o efeito placebo acaba assim que você interrompe o tratamento".

Porém, os crentes na acupuntura dizem não se importar se estudos científicos ocidentais descobrirem que o tratamento surte um forte efeito placebo. Afinal, o objetivo do que eles chamam de medicina integrativa, que combina tratamentos convencionais e alternativos, como a acupuntura, é o de armar o poder do corpo de curar a si mesmo. Não importa se esse poder é estimulado por um efeito placebo ou pela habilidosa inserção de agulhas.

"Na medicina integrativa, quando os pacientes estão envolvidos em seu processo de cura, eles geralmente têm uma tendência a melhorar", explicou Angela Johnson, praticante de medicina chinesa no Hospital Infantil Rush, em Chicago, que está conduzindo um estudo-piloto sobre a acupuntura para aliviar a dor em crianças. "Acredito que isso seja parte da razão pela qual eles melhoram".

http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/789404-medicos-ocidentais-querem-provas-de-que-acupuntura-funciona.shtml

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